
A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, e o empresário Maurício Camisotti, apontados como peças centrais de um esquema de fraudes e desvios de aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A operação, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, também cumpriu 13 mandados de busca e apreensão em Brasília e São Paulo. Foram recolhidos diversos bens de alto valor, incluindo esculturas eróticas, quadros, relógios, armas, dinheiro vivo e uma frota de veículos de luxo – entre eles Ferrari, Porsche, Land Rover, Mercedes e até um carro de Fórmula 1.
Esquema bilionário
As investigações da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU) apontam que o esquema operava por meio de associações de fachada ligadas a aposentados. Essas entidades cadastravam beneficiários sem autorização, utilizando assinaturas falsas, e passavam a descontar mensalidades diretamente da folha de pagamento do INSS.
Muitos idosos sequer tinham conhecimento de que estavam “associados”. Em alguns casos, um mesmo beneficiário foi inscrito em mais de uma entidade no mesmo dia, com fichas que apresentavam erros de grafia idênticos, evidenciando fraude.
Servidores do INSS recebiam propina para autorizar os descontos, enquanto os dirigentes das entidades se beneficiavam dos repasses. O prejuízo estimado entre 2019 e 2024 pode chegar a R$ 6,3 bilhões.
A apuração começou em 2023 na CGU, em caráter administrativo, e foi encaminhada à PF no ano seguinte, após indícios criminais. O escândalo levou, em abril, à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.



Linha do tempo do esquema de fraudes
- 2019 – Início das fraudes com associações de fachada que descontavam mensalidades sem autorização de aposentados e pensionistas.
- 2019 a 2022 – Expansão do esquema, com uso de assinaturas falsas e cadastros múltiplos no mesmo dia.
- 2023 – A CGU abre investigação administrativa e detecta propina paga a servidores do INSS.
- Início de 2024 – O caso chega à Polícia Federal, que inicia investigação criminal.
- Abril de 2024 – Escândalo vem à tona; presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, é demitido.
- Setembro de 2024 – PF e CGU estimam prejuízo em até R$ 6,3 bilhões.
- Setembro de 2025 – CPMI do INSS aprova pedido de prisão de Antunes e Camisotti.
- 12 de setembro de 2025 – PF deflagra operação, prende os dois suspeitos e apreende carros de luxo, dinheiro e obras de arte.
Papéis no esquema
- Antônio Carlos Camilo Antunes (“Careca do INSS”) – Apontado como lobista e “facilitador” das fraudes, teria transferido R$ 9,3 milhões para pessoas ligadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024. Foi preso em Brasília.
- Maurício Camisotti – Preso em São Paulo, é investigado como sócio oculto de uma entidade beneficiada pelos desvios.
- Fernando Cavalcanti – Empresário em Brasília, dono da Ferrari e do carro de Fórmula 1 apreendidos, suspeito de lavagem de dinheiro.
- Nelson Wilians – Advogado de São Paulo, alvo de buscas. A PF apreendeu dezenas de obras de arte em seus endereços.


Defesas
A defesa de Antunes informou que pedirá sua liberdade e alegou que sua empresa apenas prestava serviços a associações, sem participação em fraudes. Camisotti nega as acusações e classificou a prisão como arbitrária.
O advogado Nelson Wilians declarou colaborar integralmente com as autoridades e afirmou que sua relação com um dos investigados era estritamente profissional. Já Fernando Cavalcanti disse não ter ligação com o esquema e garantiu que apresentará documentos para comprovar a legalidade de suas atividades.
Contexto político
A prisão de Antunes e Camisotti ocorre poucos dias após a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS aprovar pedido de prisão preventiva e quebra de sigilo de ambos. A votação foi unânime, com 26 votos a favor.
Após a operação, o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), afirmou que o cronograma de depoimentos será mantido e que solicitará ao STF a oitiva dos dois detidos. A PF, porém, esclareceu que os mandados de prisão foram solicitados pela própria corporação, sem relação com a comissão.
Próximos passos
Os presos permanecem à disposição da Justiça. O material apreendido passará por perícia, e os investigadores buscam rastrear fluxos financeiros para identificar outros envolvidos. O caso já é apontado como um dos maiores esquemas de fraudes da história do INSS, tanto pelo impacto bilionário quanto pelo envolvimento de empresários, advogados e servidores públicos.


FONTE G1