
O vencedor do Prêmio Nobel da Paz 2025 será anunciado nesta sexta-feira, em Oslo, na Noruega. Analistas apontam que a honraria deve reconhecer uma organização humanitária ou internacional, em um momento marcado por guerras, desinformação e retrocessos democráticos – e não nomes políticos como o do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Apesar de afirmar que mereceria o prêmio por “salvar vidas” e “encerrar guerras”, Trump tem poucas chances de vencer, segundo especialistas. O republicano foi formalmente indicado por países como Israel, Camboja e Paquistão, mas as indicações ocorreram após o prazo oficial, encerrado em 31 de janeiro. Assim, só serão válidas para a edição de 2026.
Em setembro, durante reunião com a cúpula militar americana, Trump chegou a dizer que seria “um insulto para o país” se não fosse agraciado com o Nobel. Também mencionou o prêmio em discurso na Assembleia Geral da ONU, alegando ter encerrado sete guerras – uma declaração amplamente contestada.
Mesmo que estivesse entre os indicados de 2025, analistas afirmam que o ex-presidente contraria o espírito do prêmio. “Trump retirou os EUA da Organização Mundial da Saúde e do Acordo de Paris sobre o clima, além de ter iniciado uma guerra comercial com antigos aliados”, observou Nina Graeger, diretora do Instituto de Pesquisa da Paz de Oslo. “Não é o perfil de um líder comprometido com a paz”, completou.
Além disso, a campanha pública de Trump para receber o prêmio pode prejudicá-lo. Segundo Asle Toje, vice-líder do Comitê Norueguês do Nobel, tentativas de influência direta são mal vistas pelo grupo. “Esse tipo de campanha tem efeito mais negativo do que positivo. O comitê desaprova pressões externas”, afirmou.
Neste ano, o comitê recebeu 338 nomeações, sendo 244 pessoas e 94 organizações, o maior número desde 2016. O nome dos indicados é mantido em sigilo por 50 anos. O vencedor receberá uma medalha, um diploma e um prêmio equivalente a R$ 6,3 milhões.
O testamento de Alfred Nobel define que a honraria deve ser concedida à pessoa ou instituição que mais tenha contribuído para promover a amizade entre as nações – princípio que, segundo especialistas, deve guiar a escolha de 2025.
Favoritos e apostas
Os analistas acreditam que o Nobel da Paz deste ano será concedido a uma organização voltada à defesa dos direitos humanos, da democracia e da liberdade de imprensa. Entre as mais cotadas estão:
- Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) – Fundado em 1981, em Nova York, atua na defesa da liberdade de imprensa e na proteção de jornalistas em zonas de conflito. Destacou-se recentemente em casos no Brasil, México e Gaza.
- Salas de Resposta de Emergência do Sudão (ERRs) – Criadas durante a Revolução Sudanesa de 2019, reúnem voluntários que oferecem socorro e alimentos em meio à guerra civil, tornando-se símbolo de solidariedade no país.
- ODIHR (Escritório para Instituições Democráticas e Direitos Humanos da OSCE) e Centro Carter – O primeiro promove eleições livres e combate à discriminação em mais de 50 países; o segundo, fundado pelo ex-presidente Jimmy Carter, atua na mediação de conflitos e transparência eleitoral.
- Liga Internacional das Mulheres pela Paz e Liberdade (WILPF) – Fundada em 1915, é uma das organizações feministas mais antigas do mundo, com foco em desarmamento, igualdade de gênero e direitos humanos.
- Corte Internacional de Justiça (CIJ) e Tribunal Penal Internacional (TPI) – Com sede em Haia, as duas cortes tratam de disputas entre Estados e julgam crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade.

O Instituto de Pesquisa da Paz de Oslo e o site de apostas Polymarket também apontam Yulia Navalnaya, viúva do opositor russo Alexei Navalny, e a rede Sudan’s Emergency Response Rooms entre os nomes mais prováveis. Navalnaya ganhou destaque internacional ao denunciar o regime de Vladimir Putin e se tornar símbolo da resistência democrática russa.
Segundo Halvard Leira, diretor do Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais, as escolhas recentes indicam um retorno às “ideias clássicas de paz”, com foco em direitos humanos, democracia e liberdade de imprensa. “Meu palpite é que o comitê opte por um candidato não controverso neste ano”, afirmou.
FONTE G1