NOBEL DA PAZ VAI PARA MARÍA CORINA MACHADO, VOZ DA DEMOCRACIA VENEZUELANA

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Líder opositora é reconhecida pelo Comitê Norueguês do Nobel por sua defesa pacífica dos direitos humanos em meio à repressão do regime de Nicolás Maduro

Maria Corina Machado após votar na eleição presidencial, em 28 de julho de 2024, em Caracas

A líder da oposição venezuelana María Corina Machado foi anunciada nesta sexta-feira como a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025, concedido pelo Comitê Norueguês do Nobel, em Oslo. O reconhecimento foi dado “por seus esforços persistentes em favor da restauração pacífica da democracia e dos direitos humanos na Venezuela”. O prêmio inclui uma bonificação de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões).

Machado, impedida de disputar as eleições presidenciais de 2024, vive escondida após o regime de Nicolás Maduro intensificar a repressão contra lideranças opositoras. Mesmo sob risco de prisão e ameaças à própria vida, ela permaneceu na Venezuela, tornando-se símbolo da resistência democrática no país.

O Comitê Norueguês descreveu Machado como “um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos” e afirmou que a engenheira “manteve acesa a chama da democracia em meio à escuridão crescente”. Para os jurados, ela demonstrou que “as ferramentas da democracia também são as ferramentas da paz”, cumprindo os princípios definidos por Alfred Nobel: promover fraternidade entre nações, reduzir a militarização e trabalhar pela paz duradoura.

Trajetória marcada por repressão e resistência

María Corina Machado, nascida em 1967, é engenheira industrial formada pela Universidade Católica Andrés Bello, com pós-graduação em finanças. Fundou em 1992 a Fundación Atenea, voltada ao acolhimento de crianças em situação de rua, e, dez anos depois, a organização Súmate, que passou a fiscalizar eleições e promover o voto livre no país.

Eleita deputada em 2010 com votação recorde, Machado teve o mandato cassado em 2014 e foi inabilitada por 15 anos para exercer cargos públicos. Mesmo assim, seguiu atuando na articulação da oposição e lidera o partido Vente Venezuela. Em 2023, anunciou sua candidatura à Presidência, mas foi barrada pelo regime chavista. No pleito de 2024, apoiou o opositor Edmundo González Urrutia, apontado pela oposição como vencedor, embora o resultado tenha sido negado pelo governo.

Sua trajetória recente é marcada por episódios de perseguição. Em janeiro de 2025, durante protestos em Caracas, foi detida brevemente após uma interceptação violenta e obrigada a gravar vídeos como “prova de vida”. Em fevereiro, denunciou uma tentativa de invasão em sua residência. O Comitê Norueguês destacou que, no último ano, Machado foi forçada à clandestinidade.

Venezuela sob repressão

A entidade lembrou que a Venezuela, antes considerada uma democracia estável, vive hoje sob um regime “brutal e autoritário”. O país enfrenta pobreza extrema, censura à imprensa, prisões políticas e um êxodo de mais de 8 milhões de pessoas. Mesmo diante desse cenário, a oposição liderada por Machado e González mobilizou centenas de milhares de voluntários para proteger os votos de forma pacífica e democrática nas últimas eleições.

O comentarista Ariel Palacios classificou a escolha de Machado como “um duro golpe político para o regime de Maduro”, e destacou que o prêmio reforça o isolamento internacional do governo venezuelano.

Repercussão e reação

Após o anúncio, María Corina Machado declarou estar “em choque” durante uma conversa com Edmundo González, exilado na Espanha. “Estou em choque”, disse emocionada, recebendo como resposta: “Aqui também estamos todos em choque de alegria”.

Horas antes do anúncio oficial, as apostas online sobre o Nobel da Paz dispararam. No site Polymarket, as probabilidades de vitória de Machado saltaram de menos de 1% para 69%, levantando suspeitas de vazamento do resultado. O site utiliza tecnologia blockchain e movimenta milhões de dólares em previsões políticas e econômicas.

O Nobel da Paz

Criado pelo químico e inventor sueco Alfred Nobel (1833–1896), o prêmio é concedido anualmente a pessoas ou instituições que contribuam para a fraternidade entre as nações, a redução de armamentos e a promoção da paz. É o único Nobel entregue na Noruega, por decisão do próprio Nobel em seu testamento. A cerimônia ocorre todo dia 10 de dezembro, aniversário de sua morte, na prefeitura de Oslo.

Desde 1901, 19 mulheres e 92 homens receberam o prêmio. Entre os laureados estão figuras como Martin Luther King Jr., Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela, Malala Yousafzai e a ONU. Em 2024, a honraria foi concedida à Nihon Hidankyo, associação que representa sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.

Busto de Alfred Nobel no prédio onde o prêmio é entregue, em Oslo, na Noruega

Quem concorreu em 2025

Entre os nomes cotados para o Nobel da Paz deste ano estavam o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), as Salas de Resposta de Emergência do Sudão e a ONU, que completa 80 anos. Houve ainda uma campanha intensa para que o ex-presidente Donald Trump fosse premiado, mas especialistas apontavam que as chances eram mínimas.

FONTE G1