Carolina Arruda, jovem de São Lourenço (MG), enfrenta há mais de dez anos a neuralgia do trigêmeo, condição rara e extremamente dolorosa, conhecida como a “pior dor do mundo”. A doença provoca crises súbitas e intensas na face, descritas como facadas ou choques elétricos, e no caso dela é bilateral, o que torna o quadro ainda mais incomum e de difícil controle.

O início da dor
Os primeiros sintomas surgiram quando Carolina tinha 16 anos, durante a gravidez. As crises inesperadas a faziam gritar de dor, sem diagnóstico preciso. Foram necessárias consultas com 27 neurologistas até que a neuralgia fosse identificada. O nervo trigêmeo, responsável pelas sensações do rosto, estava comprimido, desencadeando dores incapacitantes.
“Dor é o que se perde. O paciente perde tempo de vida, prazer e tudo ao redor”, explicou o médico Carlos Marcelo de Barros, responsável pelo tratamento na Santa Casa de Alfenas.
Intervenções médicas
Ao longo dos anos, Carolina passou por diferentes abordagens. Recebeu o implante de um eletroneuroestimulador, que envia impulsos elétricos ao nervo, e de uma bomba de medicamentos, capaz de liberar analgésicos diretamente na medula. Também se submeteu à crioablação – procedimento que congela o nervo em temperaturas abaixo de -60ºC para tentar bloquear a dor – e a períodos de sedação profunda com infusão de cetamina, droga usada em casos graves de dor crônica.
Apesar das tentativas, a dor nunca desapareceu por completo. “Já faz mais de cinco anos que não tenho uma noite inteira de sono”, relatou a jovem, que também sofreu impacto emocional severo, chegando a desenvolver quadros psiquiátricos e pensamentos suicidas.

Nova internação em Alfenas
Em agosto, Carolina voltou a ser internada na Santa Casa de Alfenas para manutenção do tratamento. Passou por reposicionamento de eletrodos, reabastecimento da bomba de medicamentos e nova sessão de crioablação. Depois, ficou quatro dias em sedação profunda para receber doses de cetamina.
Embora o procedimento tenha reduzido temporariamente a intensidade das crises em momentos anteriores, desta vez não trouxe melhora significativa. Quinze dias após a cirurgia, a jovem afirmou que seguia sentindo dores da mesma forma.
Decisão de não fazer novas cirurgias
Diante do histórico de intervenções e dos riscos envolvidos, a equipe médica concluiu que não haverá mais procedimentos cirúrgicos ou experimentais. A estratégia será manter apenas os dispositivos já implantados, com ajustes de medicamentos e suporte psicológico.
“Não tem próximo passo. Foram muitas cirurgias, muitas tentativas, mas não adianta mais. Eu vou continuar com o que já tenho, mas não vou tentar nada novo”, declarou Carolina em vídeo publicado nas redes sociais.
O médico Carlos Marcelo de Barros reforçou a decisão: “O foco agora é garantir conforto, segurança e dignidade, respeitando a vontade da paciente e evitando riscos desnecessários.”
O impacto pessoal e social
A trajetória de Carolina ganhou repercussão nacional após a criação de uma vaquinha online em julho de 2024. Inicialmente, o objetivo era arrecadar recursos para custear um processo de eutanásia na Suíça, onde a prática é legalizada. A campanha arrecadou quase R$ 150 mil, mas com o convite para tratamento em Alfenas, os valores passaram a ser usados para despesas médicas no Brasil.
Hoje, a jovem mantém os dispositivos implantados e segue com o acompanhamento da equipe hospitalar. Apesar das limitações, afirma que conseguiu alguma estabilidade, como frequentar a faculdade e reduzir as idas ao pronto-socorro. Ainda assim, convive diariamente com dores incapacitantes.
“Ela ainda sofre muito. Dentro da medicina, praticamente já se esgotaram as alternativas. Existem opções cirúrgicas de alto risco, mas que a própria paciente não deseja enfrentar”, concluiu o médico responsável.

FONTE G1