TRÊS CÃES MORREM APÓS TRANSPORTE DE PET SHOP; SUSPEITA É DE CALOR

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Três cachorros morreram na última quinta-feira, em Americana (SP), enquanto estavam sob os cuidados de um pet shop. A suspeita é de que os animais tenham sofrido hipertermia, após permanecerem cerca de uma hora e meia dentro de um carro de transporte.

As vítimas eram da mesma família: Cristal (8 anos) e Luna (10 anos), da raça shih tzu, e Fofão (11 anos), lhasa apso. Os cães pertenciam a uma idosa de 71 anos, que vive com o filho e uma parente. O caso foi registrado no 1º Distrito Policial como ato de abuso a animais.

Luna, Fofão e Cristal morreram sob cuidados de pet shop em Americana

Como ocorreu

Segundo o boletim de ocorrência, por volta das 9h20, a proprietária do pet shop Agropet São Domingos e sua filha buscaram os cães para banho e tosa, com previsão de retorno ao meio-dia. No entanto, até as 16h20 os animais não haviam voltado. Questionada pelo WhatsApp, a empresária respondeu:
“Não está tudo bem (…) Eu estou em estado de choque. Eles morreram. Não sei explicar o porquê”.

Às 17h, a responsável levou os corpos à residência dos tutores, que solicitaram a remoção para a clínica de confiança da família.

Laudo veterinário

A médica veterinária Patrícia Comelato atestou que os cães não apresentavam sinais de maus-tratos físicos, mas confirmou a suspeita de morte por calor intenso. Segundo ela, a dona do estabelecimento relatou ter deixado os animais dentro do carro por cerca de 1h30.
“Tenho certeza que a pessoa não teve intenção, mas não tinha noção da gravidade do calor para animais de focinho curto”, explicou.

Repercussão jurídica

O advogado da família, Rafael Possodon, afirmou que “a família está em choque” e que a idosa, especialmente, ficou profundamente abalada. Ele disse que acompanhará a investigação criminal, que pode resultar em pena de dois a cinco anos de prisão, além de multa e proibição de guarda de animais, conforme a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98).

Na esfera civil, os tutores pretendem pedir indenização por má prestação de serviço, que pode variar de R$ 10 mil a R$ 30 mil. “Não vai trazer os animais de volta, mas pode servir de alívio e também de alerta para que situações como essa não se repitam”, destacou o advogado.

A família recebe apoio da ativista Roberta Dias, da entidade Cadeia para Maus Tratos, que defende que a indenização tem caráter educativo.

Versões contestadas

Apesar da versão da proprietária do pet shop, o advogado e a ativista questionam a narrativa de que os animais ficaram no carro durante uma entrega em local distante. Segundo eles, a residência da família fica a apenas três quarteirões do estabelecimento.
“Pela minha experiência, acredito que ela esqueceu os cães no veículo, que ficou exposto ao sol”, disse Possodon.

A defesa do pet shop, representada pelo escritório Silva e Figueiredo, foi procurada, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Riscos da hipertermia

A veterinária Sibila Weidman explica que a hipertermia pode causar desidratação, insuficiência renal, edema cerebral, convulsões, choque térmico e morte. Animais braquicefálicos (de focinho curto), como os shih tzu e lhasa apso, têm risco ainda maior devido à dificuldade respiratória.

Entre os sinais de alerta estão apatia, vômito e diarreia. Mesmo com atendimento emergencial, a reversão do quadro é difícil.

Como prevenir

Para tutores

  • Garanta acesso à sombra e locais frescos.
  • Conheça as condições do banho e tosa.
  • Verifique o tipo de transporte oferecido pelo pet shop.

Para estabelecimentos

  • Climatizar os ambientes com ventilador ou ar-condicionado.
  • Nunca deixar animais sozinhos em secadores.
  • Monitorar constantemente os pets durante todo o processo.

FONTE G1