LUIS FERNANDO VERISSIMO, UM DOS MAIORES ESCRITORES DO BRASIL, MORRE AOS 88 ANOS

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Escritor brasileiro Luis Fernando Verissimo — Foto: Mateus Bruxel/ Agência RBS

O escritor Luis Fernando Verissimo, um dos autores mais populares e respeitados do Brasil, morreu aos 88 anos, na madrugada deste sábado, em Porto Alegre. Ele estava internado na UTI do Hospital Moinhos de Vento desde 11 de agosto e faleceu em decorrência de complicações de uma pneumonia. O autor enfrentava problemas de saúde há anos: tinha Parkinson, dificuldades motoras e de comunicação após um AVC em 2021 e, em 2016, havia implantado um marcapasso.

Filho do também escritor Érico Verissimo, autor de O Tempo e o Vento, Luis Fernando nasceu em Porto Alegre em 26 de setembro de 1936. Passou parte da infância nos Estados Unidos, onde o pai lecionava literatura. Dizia ter herdado dele a escrita informal, marca registrada de sua obra.

Discreto e tímido, viveu até o fim na casa comprada pela família em 1941, no bairro Petrópolis, onde mantinha o escritório intacto do pai e guardava sua própria paixão pelo jazz: discos, CDs e o saxofone que aprendeu a tocar ainda jovem, nos tempos de escola em Washington. “Música é sentar e ouvir”, afirmou em uma entrevista de 2012.

Carreira literária e jornalística

Verissimo iniciou a trajetória no jornal Zero Hora, em 1966, como revisor. Mais tarde, atuou como tradutor no Rio de Janeiro e, em 1973, publicou seu primeiro livro, O Popular. Foram mais de 70 títulos ao longo da carreira, entre romances, contos, crônicas e quadrinhos, com 5,6 milhões de exemplares vendidos. Também escreveu colunas em O Estado de S. Paulo, O Globo e Zero Hora.

Seu humor refinado e irônico marcou personagens icônicos como Ed Mort, o Analista de Bagé e a Velhinha de Taubaté. Criou a tira As Cobras, publicada entre 1975 e 1999, em plena ditadura, espaço em que usava o humor gráfico para comentar política, filosofia e cotidiano. No início dos anos 1990, sua coletânea Comédias da Vida Privada inspirou a série homônima exibida pela Rede Globo. Também integrou a equipe de roteiristas do programa TV Pirata.

Entre seus sucessos comerciais destacam-se Comédias para se ler na escola e As mentiras que os homens contam, de 2000.

“As Cobras”, de Luis Fernando Verissimo — Foto: Arquivo

Estilo e temas

Embora lembrado principalmente pelas crônicas de humor, Verissimo transitou por temas existenciais e filosóficos, explorando o absurdo e a metafísica com leveza e ironia. Costumava transformar o cotidiano em reflexões universais, comparado por críticos ao argentino Jorge Luis Borges pela habilidade em condensar ideias complexas em textos curtos e de linguagem acessível.

Um exemplo recorrente era o contraste entre o trivial e o filosófico: personagens discutindo poesia em situações de crise ou bandidos e vítimas travando diálogos existenciais em meio a um assalto. “Não sou eu que falo pouco, os outros é que falam muito”, afirmou certa vez, em referência à sua timidez.

Paixões pessoais

Além da literatura e do jazz, Verissimo era um apaixonado pelo futebol e torcedor fervoroso do Internacional. Cobriu Copas do Mundo desde 1986 e relatou, em crônicas, jogos inesquecíveis. O título mundial do Inter, em 2006, foi um de seus momentos mais celebrados: “Foi um triunfo de sonho. Antes do jogo, o sentimento era: se perder de pouco, está bom”, escreveu.

Legado e despedida

Luis Fernando Verissimo deixa a esposa, Lúcia Helena Massa, três filhos e dois netos. O velório será realizado neste sábado, a partir das 12h, no Salão Nobre Julio de Castilhos, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Com humor, inteligência e delicadeza, Verissimo transformou crônicas curtas em retratos atemporais do Brasil. Sua obra, que uniu filosofia, política, futebol e cotidiano, seguirá viva enquanto leitores encontrarem, em suas páginas, graça e sentido nas pequenas e grandes questões da vida.

FONTE G1