Excesso de açúcar na alimentação está associado a maior risco de obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, acúmulo de gordura no fígado e até alterações no metabolismo cerebral.

Após pressão do ex-presidente Donald Trump, a Coca-Cola anunciou que passará a adoçar a bebida com açúcar da cana nos Estados Unidos. Atualmente, o refrigerante americano é feito com xarope de milho, diferente de países como Brasil, México e Reino Unido, onde já se utiliza o açúcar da cana.
A mudança pode ter impacto econômico, exigindo maior importação de açúcar, inclusive do Brasil. Mas, do ponto de vista da saúde, a alteração é praticamente irrelevante.
Especialistas explicam que tanto o xarope de milho (rico em frutose) quanto o açúcar da cana (sacarose) são prejudiciais quando consumidos em excesso, especialmente em bebidas açucaradas como refrigerantes.
“Na prática, a troca de xarope de milho por açúcar da cana-de-açúcar não representa uma mudança significativa em termos de impacto nutricional. Ambos continuam sendo fontes de calorias vazias, com alto teor de açúcar e baixo valor nutritivo”, destaca Lívia Horácio, nutricionista pela Unifesp.
Apesar da troca não representar uma mudança significativa, os nutricionistas destacam que:
- De forma geral, o excesso de açúcar na alimentação está associado a maior risco de obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, acúmulo de gordura no fígado e até alterações no metabolismo cerebral.
- Ao comparar os dois tipos de açúcar, a frutose tem sido mais associada a alterações metabólicas do que a sacarose, embora todo os açúcares em excesso sejam prejudiciais.
Xarope de milho X cana-de-açúcar
Embora ambos sejam tipos de açúcar simples e ofereçam riscos à saúde quando consumidos em excesso, xarope de milho e açúcar da cana não são iguais em sua composição.
O xarope de milho, como o HFCS usado nos refrigerantes dos EUA, é mais rico em frutose do que em glicose. Já o açúcar da cana contém sacarose, composta por partes iguais de glicose e frutose.
A nutricionista Isabela Gouveia, mestre em Ciências de Alimentos pela USP e pesquisadora do Food Research Center (FoRC/USP), alerta que a frutose concentrada, presente no xarope de milho, tende a ser mais prejudicial por ser metabolizada no fígado, o que pode favorecer o acúmulo de gordura no órgão.
“Embora nenhum dos dois possa ser considerado saudável em grandes quantidades, há mais evidências ligando o consumo excessivo de frutose isolada e concentrada a alterações metabólicas, como resistência à insulina e gordura no fígado”, analisa Gouveia, que também é pesquisadora do Food Research Center (FoRC/USP).
Ela ressalta que o problema não está na frutose natural das frutas, mas sim nas formas ultraprocessadas, comuns em refrigerantes, balas e bolos industrializados.

Existe alternativa saudável?
Segundo especialistas, não há um tipo de açúcar realmente mais saudável. Todos, quando consumidos em excesso, oferecem riscos à saúde.
A nutricionista Lívia Horácio explica que açúcares considerados “naturais”, como mel, mascavo ou de coco, até possuem traços de minerais e antioxidantes, mas isso não os torna melhores do ponto de vista nutricional.
O mesmo vale para refrigerantes diet. Embora sejam vantajosos por não conterem calorias, ainda não podem ser classificados como opções saudáveis, já que há discussões sobre os efeitos dos adoçantes artificiais no metabolismo, no apetite e na microbiota intestinal.
“No final, todas as fontes concentradas de açúcar devem ser consumidos com moderação. A diferença está mais na origem e no sabor do que no impacto metabólico”, analisa a nutricionista.
Por que a Coca Cola vai mudar nos EUA?
A mudança na fórmula da Coca-Cola nos Estados Unidos foi influenciada por pressão política. O secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., por meio do movimento Make America Healthy Again (“Torne a América saudável novamente”), vem defendendo que empresas eliminem de seus produtos ingredientes como xarope de milho, óleos de sementes e corantes artificiais, associando-os a problemas de saúde.
Apesar disso, as críticas de Kennedy não são acompanhadas de dados científicos claros. O ex-presidente Donald Trump, que também participou da articulação com a empresa, afirmou apenas que a mudança “era simplesmente melhor”.
Kennedy tem se posicionado contra o alto consumo de açúcar no país e, segundo relatos, deve propor em breve uma revisão das diretrizes alimentares nacionais.
FONTE G1