
Após mais de 700 dias de cativeiro, os 20 últimos reféns israelenses mantidos vivos pelo grupo Hamas foram libertados na madrugada desta segunda-feira, em Gaza. A libertação encerra uma das etapas mais delicadas do acordo de cessar-fogo firmado entre Israel e o Hamas, mediado por Egito, Catar e Turquia, e proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A soltura dos reféns ocorre em troca da libertação, por Israel, de cerca de 2 mil prisioneiros palestinos – entre eles, 250 condenados à prisão perpétua por ataques contra israelenses. Segundo o governo de Israel, outros 28 reféns continuam desaparecidos e são dados como mortos, embora dois ainda tenham situação indefinida.
Horas após o resgate, Trump discursou no Parlamento israelense, onde afirmou que “a era do terror e da morte chegou ao fim”. O presidente americano foi ovacionado por parlamentares e recebeu a Medalha de Honra Presidencial Israelense, a maior condecoração civil do país. A visita consolidou sua popularidade em Israel, superando até mesmo a do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que o saudou como “arquiteto da paz”.
Cúpula da Paz e novo plano para Gaza
Logo depois da cerimônia em Jerusalém, Trump seguiu para o Egito, onde presidiu a “Cúpula da Paz em Gaza”, realizada em Sharm El-Sheik. O encontro reuniu mais de 20 líderes mundiais, incluindo o emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani; o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan; o egípcio Abdul Fatah Al-Sisi; o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas; e chefes de governo da França, Reino Unido, Itália e Espanha.
Israel e Hamas não participaram da assinatura do documento, mas o cessar-fogo já havia sido acordado por seus negociadores dias antes. A ausência de Netanyahu foi justificada pela coincidência com um feriado judaico.
O acordo firmado no Egito oficializa o fim dos bombardeios na Faixa de Gaza e o recuo gradual das tropas israelenses – que reduziram a ocupação do território de 75% para 53%. Também prevê a criação de um conselho internacional para supervisionar a reconstrução de Gaza e o início de um plano de paz duradoura no Oriente Médio.
Apesar do avanço, diversos pontos permanecem indefinidos. Ainda não está claro como será a transição de governo em Gaza, nem se o Hamas aceitará entregar suas armas ou aceitar uma tutela estrangeira na administração local. A Casa Branca informou que novas etapas do acordo estão em negociação.

Reconstrução e desafios humanitários
O conflito, iniciado em outubro de 2023, deixou mais de 60 mil mortos em Gaza e destruiu grande parte da infraestrutura local. Água, energia e alimentos continuam escassos. Segundo o cientista político Hussein Ali Kalout, pesquisador da Universidade Harvard e conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), “o grande desafio agora será transformar o cessar-fogo em paz efetiva e garantir condições mínimas de sobrevivência para a população devastada”.
Trump declarou que “a reconstrução de Gaza começa agora” e anunciou o início da segunda fase de seu plano, voltada à governança local e à retomada econômica do território.
Em reportagem especial, o correspondente Murilo Salviano, da TV Globo, relatou de Jerusalém o clima de “alívio e esperança” entre israelenses e palestinos, embora ambos os lados mantenham desconfiança quanto à durabilidade do cessar-fogo.
Símbolo político
A atuação de Trump no processo de paz gerou repercussão internacional e o transformou no político estrangeiro mais popular de Israel. Sua presença no Parlamento israelense unificou correntes políticas rivais e foi celebrada como símbolo de uma nova fase para o país. “O senhor é um gigante da história judaica”, declarou o presidente do Knesset, Amir Ohana.
Enquanto Trump capitaliza o êxito diplomático, Netanyahu tenta manter protagonismo interno, aproveitando o momento para reforçar sua imagem de defensor da segurança nacional. A expectativa agora se volta para as próximas etapas do acordo – e para saber se, após anos de violência, o Oriente Médio finalmente entrará em um período de paz estável.
FONTE G1