
A Polônia derrubou drones russos que invadiram seu espaço aéreo na madrugada desta quarta-feira, em uma ação realizada com o apoio de caças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O episódio levou Varsóvia a acionar o Artigo 4 do tratado, dispositivo que prevê consultas urgentes entre os membros da aliança diante de ameaças à segurança e integridade territorial de um aliado.
Segundo o governo polonês, 19 drones russos cruzaram a fronteira, sendo que três foram derrubados. Os destroços caíram em diferentes regiões do país, incluindo áreas no leste, norte e centro. Em cidades como Czosnowka, moradores relataram que os fragmentos atingiram casas e veículos, causando danos materiais, mas sem deixar feridos.
A defesa aérea polonesa foi acionada em estado de alerta máximo, e o espaço aéreo chegou a ser fechado temporariamente, afetando operações de aeroportos importantes, como o de Varsóvia. As autoridades militares recomendaram que a população permanecesse em casa durante os ataques, enquanto caças da Otan, entre eles aviões de combate norte-americanos e alemães, patrulhavam os céus para conter novas incursões.
Declarações oficiais e tom de alerta
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, descreveu o episódio como um dos momentos mais críticos da segurança nacional desde a 2ª Guerra Mundial.
“Nunca estivemos tão próximos de um conflito armado como agora. A Polônia está pronta para reagir a ataques e provocações”, afirmou Tusk em pronunciamento.
O presidente Karol Nawrocki classificou a violação do espaço aéreo como “um ato sem precedentes na história da Otan” e afirmou que o país não aceitará intimidações. Autoridades militares também destacaram que os ataques partiram não apenas de bases russas, mas também de áreas controladas por Belarus, aliado estratégico de Moscou, o que aumenta as preocupações sobre a ampliação da frente de tensão no leste europeu.

Reações internacionais imediatas
O ataque provocou forte mobilização diplomática na União Europeia e na Otan.
- Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que a violação representa “uma escalada insensata e sem precedentes” e assegurou que a União Europeia defenderá “cada centímetro de seu território”.
- Emmanuel Macron, presidente da França, chamou a ação de “simplesmente inaceitável” e prometeu solidariedade à Polônia.
- O premiê britânico Keir Starmer classificou o ataque como “extremamente inconsequente” e pediu uma resposta firme da aliança.
- O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, ressaltou que “intencional ou não, o ataque foi absolutamente irresponsável e perigoso”, enviando uma mensagem direta a Vladimir Putin: “Pare de violar o espaço aéreo dos aliados”.
- O governo da Alemanha avaliou que o incidente mostra “até onde a Rússia está disposta a testar a Europa”.
- A alta representante da União Europeia para assuntos externos, Kaja Kallas, alertou que “a guerra da Rússia está escalando, não terminando” e defendeu a ampliação de sanções, além de mais investimentos na defesa comum.
Posição de Moscou
O Ministério da Defesa da Rússia admitiu que realizou uma série de ataques aéreos com drones contra alvos militares em território ucraniano, mas negou que tenha mirado a Polônia. Segundo a nota oficial, os equipamentos utilizados possuem alcance máximo de cerca de 700 km, insuficiente para atingir o território polonês.
O Kremlin, por sua vez, evitou comentários diretos, limitando-se a dizer que “União Europeia e Otan lançam acusações diárias contra a Rússia”. O encarregado de negócios russo em Varsóvia chegou a acusar a Polônia de apresentar “alegações infundadas”, reforçando o discurso de que a invasão não teria sido intencional.
Artigo 4 e risco de escalada
Esta foi a sétima vez que o Artigo 4 da Otan é acionado desde a fundação da aliança, em 1949. O dispositivo não implica resposta militar imediata, mas estabelece consultas formais entre os membros, que podem decidir por medidas conjuntas de defesa.
Em 2022, a Polônia também acionou o artigo após a queda de mísseis em seu território, episódio que provocou temor de expansão do conflito, mas que foi classificado posteriormente como acidente decorrente da defesa antiaérea ucraniana.
A grande preocupação agora é se a violação será interpretada como um ataque intencional da Rússia. Caso isso seja confirmado, abre-se caminho para o Artigo 5, que prevê a defesa coletiva – considerado o pilar mais importante da Otan. Até o momento, os aliados não discutiram oficialmente essa possibilidade, mas líderes europeus já falam em intensificar sanções e reforçar a presença militar no leste do continente.

Contexto da guerra e impacto regional
O episódio ocorre apenas três dias após a Rússia realizar o maior ataque aéreo contra a Ucrânia desde o início da guerra, atingindo infraestrutura energética e alvos militares. A ofensiva, segundo Kiev, envolveu centenas de mísseis e drones, colocando em evidência a crescente intensidade do conflito.
A Polônia, que compartilha mais de 500 km de fronteira com a Ucrânia, tem sido uma das principais portas de entrada de ajuda militar ocidental a Kiev, além de abrigar milhões de refugiados desde 2022. O país já vinha alertando a comunidade internacional sobre riscos de expansão da guerra para além do território ucraniano.
Especialistas em segurança afirmam que a violação aérea pode ter múltiplos objetivos: testar os limites da Otan, pressionar a Polônia por seu papel no apoio à Ucrânia ou, simplesmente, resultado de erros operacionais na condução dos drones.
Próximos passos
O Conselho do Atlântico Norte, órgão de decisão da Otan, deve se reunir em caráter de urgência para avaliar o caso. A expectativa é de que os aliados reforcem o sistema de defesa aérea no leste europeu, ampliem a presença militar nos países fronteiriços e discutam novas medidas de dissuasão contra Moscou.
Enquanto isso, autoridades polonesas pedem calma à população, mas reforçam que a situação é séria e sem precedentes desde o início da guerra. Para o primeiro-ministro Donald Tusk, o episódio demonstra que a Europa vive “um momento decisivo para sua segurança coletiva”.
FONTE G1