CIENTISTAS ALERTAM: PONTOS DE NÃO RETORNO AMBIENTAIS ESTÃO CADA VEZ MAIS PRÓXIMOS

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Desmatamento na Amazônia aumenta no primeiro semestre de 2025 depois de 2 anos em queda — Foto: Reprodução/TV Globo

A ciência do clima tem um alerta urgente: diversos ecossistemas do planeta, incluindo a Floresta Amazônica, estão perigosamente próximos de atingir os chamados pontos de não retorno – limites críticos a partir dos quais as transformações ambientais se tornam irreversíveis.

Assim como a última gota transborda um copo aparentemente estável, pequenas mudanças acumuladas podem desencadear colapsos súbitos e duradouros em sistemas naturais complexos. E segundo estudos recentes, estamos nos aproximando rapidamente desses limites.

Amazônia pode colapsar até 2050

Um estudo publicado na revista Nature e liderado por cientistas brasileiros revela que até 47% da Floresta Amazônica pode estar exposta a múltiplos fatores de estresse até 2050. O risco é que a combinação entre aquecimento global, secas mais longas e intensas, desmatamento e queimadas leve a floresta ao ponto de não regeneração, transformando-a em paisagens degradadas, como savana de areia branca, florestas dominadas por espécies invasoras, ou até áreas não florestais, permanentemente empobrecidas.

Esses processos já estão em curso em algumas regiões. Estima-se que 5% a 6% do sul da Amazônia já tenha se convertido em ecossistemas degradados, com perda irreversível de biodiversidade e aumento da vulnerabilidade ao fogo.

“Quando a floresta perde sua capacidade de reciclar a água das chuvas, a própria dinâmica do bioma entra em colapso”, explica o pesquisador Bernardo Flores, da UFSC. “A temperatura média da estação seca pode aumentar até 4°C até 2050, o que acelera esse processo”.

Além do impacto sobre a biodiversidade, o colapso da Amazônia afetaria diretamente o regime de chuvas em outras regiões do Brasil, como o Pantanal, as Cataratas do Iguaçu e a Bacia do Prata. Populações tradicionais que dependem da floresta seriam as primeiras a sofrer com essas mudanças.

Uma crise que vai além da Amazônia

A situação não é exclusiva da floresta brasileira. Segundo estudo da Universidade de Exeter, no Reino Unido – financiado pelo Bezos Earth Fund – pelo menos cinco pontos de inflexão globais já estão próximos de serem ultrapassados:

  1. Colapso dos recifes de corais em águas quentes
    Altamente sensíveis ao aumento da temperatura e à acidificação dos oceanos, os recifes tropicais estão morrendo em ritmo acelerado. Desde 2009, o planeta já perdeu cerca de 14% desses recifes, fundamentais para a vida marinha e para comunidades costeiras.
  2. Derretimento do permafrost no Ártico
    Esse solo permanentemente congelado armazena cerca de 1.700 bilhões de toneladas de carbono. Seu descongelamento – já em curso em várias regiões – pode liberar grandes quantidades de gases de efeito estufa, como o metano, agravando ainda mais o aquecimento global.
  3. Derretimento do manto de gelo da Groenlândia
    A Groenlândia vem perdendo gelo de forma contínua há 27 anos. Se o manto se desintegrar, isso elevará o nível do mar e pode desestabilizar a corrente oceânica do Atlântico Norte, intensificando fenômenos climáticos como o El Niño.
  4. Degelo da Antártida Ocidental
    O aquecimento das águas do Oceano Austral tem provocado o recuo acelerado das geleiras na região do Mar de Amundsen. Em 2023, a Antártida registrou a menor extensão de gelo marinho desde o início dos registros por satélite, em 1978.
  5. Colapso das florestas boreais no Hemisfério Norte
    Essas florestas, que se estendem por países como Canadá e Rússia, também estão ameaçadas por incêndios mais frequentes e secas prolongadas, alterando drasticamente sua capacidade de absorver carbono.

Um efeito dominó global

O mais preocupante é que esses pontos de inflexão não agem isoladamente. Um processo pode desencadear outro, gerando um efeito cascata difícil de controlar. Por exemplo, o descongelamento do permafrost acelera o aquecimento, que por sua vez acelera o derretimento das calotas polares e o colapso de ecossistemas tropicais.

Segundo os pesquisadores, esse encadeamento pode levar a mudanças abruptas e generalizadas, mesmo que algumas regiões ainda pareçam estáveis hoje.

Hora de agir: evitar o colapso ainda é possível

Apesar da gravidade, os cientistas ressaltam que ainda há tempo para evitar o pior – mas é necessário agir agora. As recomendações incluem:

  • Redução imediata das emissões de gases do efeito estufa;
  • Combate efetivo ao desmatamento, especialmente na Amazônia;
  • Proteção e restauração de ecossistemas degradados;
  • Cooperação global para enfrentar a crise climática com a urgência de uma emergência planetária.

“O momento de agir é antes de atingir o ponto crítico, não depois”, alerta Bernardo Flores. “A incerteza sobre o tempo que ainda temos exige que adotemos o princípio da precaução – e isso significa tomar decisões firmes agora”.

FONTE G1