Animais conseguem identificar alterações químicas que interferem no odor exalado pelo tutor de 15 a 20 minutos antes do início dos sintomas, evitando situações de risco aos diabéticos.

Cães de serviço treinados têm se mostrado aliados valiosos na prevenção de crises em pessoas com diabetes. Com olfato altamente apurado, eles são capazes de detectar alterações químicas no odor do tutor – causadas por desequilíbrios glicêmicos – até 20 minutos antes dos primeiros sintomas, ajudando a evitar situações de risco.
A gerente financeira Raphaelle Almada Pinheiro, que tem diabetes tipo 1, conta que seu cão a alertou de forma insistente durante uma crise. “Se eu estivesse sozinha, as consequências poderiam ter sido graves”, relata.
Esses cães, conhecidos como cães de alerta médico, passam por um rigoroso treinamento que pode durar de cinco a oito meses, em quatro etapas: socialização e obediência básica, reconhecimento e localização de odores e adaptação em ambientes variados. Durante o processo, são usadas amostras reais de saliva e suor dos tutores em episódios de hiperglicemia.
Segundo Renata Boragini Rodrigues, fundadora da ONG Service Dog Brasil, os cães conseguem identificar mudanças no odor exalado pelo tutor através do suor, saliva ou hálito. Quando percebem a alteração, eles sinalizam por meio de toques com a pata ou focinho, olhares fixos, latidos insistentes ou até segurando um objeto específico na boca.

Além do diabetes, esses animais também podem ser treinados para auxiliar em casos de epilepsia, autismo e transtorno de estresse pós-traumático.
Durante episódios graves, como a cetoacidose diabética – condição comum em diabéticos tipo 1 quando os níveis de açúcar e cetonas se elevam – o cão pode ser essencial. “Se o tutor estiver dormindo, por exemplo, ele pode não perceber os sintomas, e o cão atua como um verdadeiro salvador”, reforça Renata.
Bruno Benetti Torres, da Universidade Federal de Goiás, explica que durante crises, o corpo libera compostos orgânicos voláteis que formam uma “assinatura de odor” detectável apenas por cães, mesmo antes que sensores eletrônicos acusem alterações perigosas.
A escolha do animal é feita com base em critérios como temperamento e facilidade de aprendizado. Embora cães de qualquer raça possam ser treinados, labradores, golden retrievers e poodles são os mais utilizados.
Os tutores também passam por treinamentos para aprender a interpretar os sinais e cuidar adequadamente do animal. Raphaelle, que convive com seu cão há três anos, afirma que sua qualidade de vida melhorou significativamente. “Hoje tenho mais segurança para trabalhar, viajar e viver normalmente, com o controle da glicemia muito mais estável”, diz.
Casos como o dela se repetem. Renata conta que já houve situações em que cães salvaram tutores que passaram mal durante o sono, chamando atenção de pessoas próximas e permitindo o socorro a tempo.
FONTE G1