A origem do problema foi rastreada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária até a fábrica Nutratta Nutrição Animal, em Itumbiara, Goiás. Amostras coletadas pela fiscalização detectaram a presença de substância química na ração

Tragédia que abateu criadores de cavalos em diversos estados brasileiros: a morte de animais após o consumo de ração contaminada. Até o momento, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) registrou 245 animais mortos em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas, com investigações em andamento também na Bahia e em Goiás.
A origem do problema foi rastreada pelo Ministério da Agricultura até a fábrica Nutratta Nutrição Animal, em Itumbiara, Goiás. Amostras coletadas pela fiscalização detectaram a presença de alcaloide pirrolizidínico, uma substância química encontrada em plantas crotalárias, especificamente a monocrotalina. O Ministério confirmou que todos os animais doentes haviam consumido rações da Nutratta, enquanto animais sadios não.
O que é a crotalária
A crotalária é uma planta comum no Brasil, que cresce naturalmente em pastagens e é valorizada por sua capacidade de fixar nitrogênio no solo, agindo como um “adubo verde”. Ela é usada entre as safras para enriquecer a terra, garantindo uma melhor qualidade para plantações futuras de soja ou milho.
No entanto, após a fixação do nitrogênio, é crucial que a planta seja removida imediatamente, pois o desenvolvimento de suas favas e sementes concentra grandes quantidades dos alcaloides pirrolizidínicos, como a monocrotalina, tornando-as extremamente tóxicas.
A monocrotalina é tóxica para todos os animais, incluindo seres humanos. Nos cavalos, o principal órgão atingido é o fígado, causando uma grande lesão hepática conhecida como necrose hepática. O fígado, que tem funções vitais como a detoxificação do organismo, é sobrecarregado.
As substâncias tóxicas também se fixam em músculos e ossos, sendo liberadas no organismo à medida que o animal se exercita, agravando ainda mais a sobrecarga hepática.
Os sintomas nos cavalos iniciam com prostração, falta de apetite, e uma tendência a ficar parados no fundo da baia, buscando se esconder da luz. Exames já mostram lesões no fígado nesse estágio. Uma vez que os sintomas se agravam, a morte costuma acontecer em poucas horas. A lesão severa no fígado causa a queda das plaquetas, o que impede a coagulação do sangue, resultando em hemorragias.
O Ministério da Agricultura constatou que a Nutratta “falhou no controle de fornecimento de matéria-prima”, permitindo a presença da espécie crotalária e da substância proibida para equinos na ração. Essa é a primeira vez que a presença de monocrotalina é constatada em ração para equinos.
Como medida, em 25 de junho, o Ministério suspendeu toda a linha de produção da empresa. Embora a Nutratta tenha conseguido uma autorização judicial para produzir alimentos para vacas e ovelhas, a produção de ração para cavalos continua proibida, e o Ministério informou que vai recorrer da decisão.
O prejuízo financeiro para os haras é avassalador. No rancho de Paulo, o valor médio dos animais era de cerca de R$ 40 mil, somando um prejuízo total de R$ 2 milhões. Paulo descreve a situação como um “recomeçar do zero novamente”. Além da perda financeira, a dor emocional é imensa. Eduardo Lucena, advogado que representa 40 proprietários, afirma que serão pleiteados danos materiais (valor do cavalo, custos de tratamento e enterro) e danos morais, devido à dor causada aos proprietários.
Em nota, a Nutratta lamentou os relatos de intoxicação e mortes, afirmando que colabora com o MAPA e que adotou medidas preventivas e corretivas imediatas, incluindo o reforço no controle laboratorial e o rastreamento das matérias-primas. No entanto, Nara critica o “silêncio dessa empresa quieta”, afirmando que “não estamos encontrando isso nessa empresa. Nenhum apoio. É zero. Não vai trazer nossos Cavalos de volta”.
FONTE G1