Jornal Sudoeste Paulista

“EXPOFATURADA”: valores exorbitantes de cachês levam a processo civil

Escândalo de cachês na EXPOFAR 2024 coloca Luciano Filé no foco do MP

MP move ação civil contra Prefeito Filé por suposto Dano ao Erário  

Uma investigação conduzida pelo Ministério Público de São Paulo resultou na instauração de uma ação civil contra a Prefeitura Municipal de Fartura, o Prefeito Luciano Peres e outras partes envolvidas, incluindo a Tep. Entretenimento e Promoções Ltda, C & R Produções e Eventos Ltda, Ig. Produções Artísticas Ltda, e a Associação Farturense do Agronegócio.

Inicialmente, denúncias e alertas do tribunal de contas chamaram a atenção para problemas na administração financeira da cidade, incluindo a falta de conciliações bancárias e a superação de limites constitucionais, mas o centro das irregularidades é a destinação dos recursos para a EXPOFAR 2024. Embora inicialmente divulgado como financiamento privado, descobriu-se poucas semanas antes do evento, que uma verba superior a 1 milhão de reais foi obtida através de uma emenda parlamentar, destinada ao Ministério do Turismo, intermediada pelo Deputado Federal Luiz Carlos Motta.

Entretanto, a transparência sobre a origem e uso desses recursos foi obscurecida pelas autoridades municipais. Os vereadores Bruno Guazzelli, Anderson Lima, Marquinhos e Filipe, criticaram a falta de transparência no processo e questionaram a justificativa da prefeitura para obter o crédito adicional destinado à EXPOFAR tão próximo a data do evento.

Os contratos, somados a outras supostas irregularidades, como a troca de CNPJ da empresa responsável pelos camarotes e relatos de depósitos em contas pessoais de membros da comissão organizadora, geraram desconfiança sobre a integridade dos processos organizacionais do evento.

Além disso, a investigação do próprio MP, revelou contratos celebrados sem licitação para os shows artísticos, com valores exorbitantes e suspeitas de corrupção. Comparando os cachês dos artistas contratados – como Clayton e Romário, Ícaro e Gilmar – com eventos similares em outras cidades, encontrou-se uma diferença exorbitante nos valores, levantando suspeitas sobre a lisura dos processos de contratação. Em uma análise comparativa com contratos de apresentações dos mesmos artistas em outras cidades, foi constatada uma discrepância nos cachês, beirando a casa dos 200 mil reais em apenas um dos shows.

No caso específico dos artistas Ícaro e Gilmar, por exemplo, o MP identificou que os cachês contratados para a EXPOFAR 2024 foram três vezes superiores aos valores pagos por apresentações semelhantes em outras cidades.

A discrepância nos valores pagos para os shows é gritante: Ícaro e Gilmar custaram 350 mil em Fartura, enquanto em outras cidades foram pagos valores significativamente menores, como 220 mil em Peruíbe, 153 mil em São Sebastião da Grama, e 130 mil em São Miguel Arcanjo. No caso do show de Clayton e Romário, a suspeita de superfaturamento foi de 100 mil reais.

A equipe de fiscalização envolvida levanta ainda mais preocupações, incluindo nomes como Hugo Dognani, ex-chefe de gabinete do prefeito, Vânia Almeida, atual chefe do gabinete, Danilo Robles, assessor do prefeito, e Kelly Lays, conhecida como “filha do Arvão do filé”. Esses indivíduos, inseridos no comitê especial de fiscalização, são peças-chave no escândalo de má gestão financeira.

De acordo com o promotor Mauricio Llagostera, em uma análise detalhada das notas fiscais apresentadas, ficou evidente que o executivo do município não se preocupou em realizar uma simples pesquisa de preço para verificar o valor de mercado, garantindo que estivesse pagando um preço justo pelos serviços dos artistas.

Llagostera também destacou no relatório, que a falta de transparência e o descaso com o emprego de verbas públicas são preocupantes, especialmente considerando o contexto de dificuldades financeiras enfrentadas pelo município.

Apesar do pedido de urgência para rescindir os contratos dos shows artísticos ter sido indeferido temporariamente pelo juiz Leonardo Labriola Ferreira, a investigação continua avançando, com a coleta de mais evidências e depoimentos para sustentar a ação. A Prefeitura de Fartura, juntamente com sua equipe, foi convocada a prestar esclarecimentos.

Por: Marília S. Milani
Jornalista e ativista DRT: 0096209\SP