Na última segunda-feira, dia 09 de outubro de 2023, a imprensa do Jornal Sudoeste Paulista teve a oportunidade de participar de uma audiência crucial no Caso Nathália, que vem ganhando destaque na mídia local desde julho de 2022. A audiência contou com a presença do juiz Júnior da Luz Miranda, o promotor do Ministério Público Mauricio Llagostera Marchese Rodrigues, diversas testemunhas e o réu em primeira instância, Fernando Emilio Bertoni, mais conhecido como Pitukinha. O objetivo era esclarecer os eventos relacionados às acusações de ameaça com arma de fogo e posse irregular de arma de fogo com munição suprimida. A imprensa tentou entrar em contato com as vítimas, a vereadora Nathalia Geraldo e o prefeito Luciano Peres, mas ambos optaram por não fazer comentários. Durante a audiência, as testemunhas e o réu apresentaram versões conflitantes dos eventos em questão.
Antônio Geraldo, pai da vítima Nathalia Geraldo, testemunhou que o réu manteve um relacionamento com sua filha por cerca de 8 meses e que ele já havia notado sinais de violência, incluindo um braço roxo. No entanto, sua filha nunca confirmou diretamente os abusos, aparentemente para não o preocupar. Quanto ao incidente de ameaça com arma de fogo em 19 de julho de 2022, Antônio Geraldo estava em casa naquela noite e notou que sua filha chegou em casa chorando após sair com o acusado. Novamente, sua filha não confirmou a agressão, o que ele atribuiu a uma tendência dela em evitar indispor os pais com problemas relacionados ao seu ex-relacionamento com o réu.
O investigador de Polícia de Avaré, Marcelo Carlos de Oliveira, confirmou ter participado da busca e apreensão de um revólver Taurus calibre 38 com munição, mas não pôde confirmar se a numeração do revólver estava raspada. A busca e apreensão ocorreu na casa do réu, mas a arma foi encontrada no carro, no compartimento atrás do banco do passageiro. O réu cooperou com a busca, e não foi necessário arrombar nada.
Também foi ouvido, Orlando Antoniolli, mais conhecido como “Teteu” sendo policial aposentado, declarou que soube dos eventos relacionados ao réu por meio de terceiros, não diretamente do acusado. Ele não viu notícias sobre o caso no jornal, mas tomou conhecimento por meio de fofocas e redes sociais, citando o WhatsApp.
A última testemunha do réu ouvida em depoimento, Roberto Gregório do Prado, afirmou que conhece o réu desde sua infância e presenciou de perto sua trajetória política, mas que nunca imaginou que o relacionamento dele com a vereadora pudesse ter qualquer indicio de violência. Ele mencionou que, em algumas reuniões de lazer em sua casa, presenciou discussões “bobas” do casal, mas nada grave, e logo os dois voltavam a se entender.
No depoimento do réu, uma narrativa com tons conspiratórios foi apresentada. Segundo o réu, no dia 19 de julho de 2022, sua ex-companheira apresentou comportamentos incomuns, querendo sair de casa logo cedo e pedindo para comer fora. Ele aconselhou que ela ficasse em casa com a filha, mas eventualmente cedeu e comprou um bolo para agradá-la. No entanto, ele notou que Nathalia estava agindo de forma a esquivar-se naquele dia e, na tentativa de obter uma explicação, ele a pressionou, dizendo: “Pode confessar, Nathalia, eu já sei de tudo.” De acordo com o relato de Fernando, a vítima ficou visivelmente perturbada e mencionou que havia trocado mensagens com o prefeito durante toda a semana. Nesse momento, Fernando afirmou que estava determinado a encerrar o relacionamento e anunciou que iria embora.
No entanto, a vítima, em um ato desesperado, implorou para que ele não a deixasse, argumentando que tinham uma filha juntos. Mesmo assim, Fernando dirigiu-se ao gabinete do prefeito, que percebeu seu estado de desespero e o aconselhou a se acalmar, prometendo mostrar todas as mensagens trocadas, conforme mencionadas por Nathalia. Quando as mensagens foram reveladas, Fernando relatou que elas não faziam sentido, pois parecia que o prefeito havia excluído suas mensagens, deixando apenas aquelas de Nathalia, que sugeriram que ela estava interessada nele, as quais continham frases como “estou com saudades”, “quero ver você novamente” e “me abandonou”. O prefeito se prontificou a esclarecer a situação, e os dois foram juntos até a casa de Nathalia. No local, Fernando alega que o prefeito solicitou repetidamente que Nathalia confessasse o que tinha acontecido, e foi então que a vítima usou a frase “dei moral pra ele”. Em seguida, Fernando pediu que ela saísse do carro, e ele levou o prefeito de volta ao seu gabinete.
Em sua defesa, Fernando Pitukinha afirma que a situação chegou a esse ponto porque tanto o prefeito Filé quanto a vereadora Nathalia temiam que ele tornasse sua versão pública antes que eles pudessem se defender sobre a hipotética traição. Fernando alega que sua ex-companheira era ciente da existência da arma calibre 38. Em depoimento, o réu também mencionou que quando soube dos boatos da ameaça com arma de fogo disse: “você é louca, eu nunca fiz isso”. Adicionalmente, o acusado busca enquadrar os acontecimentos em um possível cenário político. Ele argumenta que “acho que eles não estavam cientes da situação que eles próprios estavam criando, pois eu tinha posição importante para eles na câmara, com meu voto”. Conforme narrativas apuradas pelo Jornal Sudoeste Paulista, recentemente a secretaria da saúde foi dada a Dorivete Gabriel (PPS – partido do então vereador Décio Martins), o que descentralizaria na data atual o voto do vereador Fernando Pitukinha para o interesse da atual administração. O réu enfatizou que, mesmo após o incidente, seu relacionamento com o prefeito Filé e Nathalia permaneceu cordial e colaborativo. Ele justifica sua versão em um contexto de quê, não tinham interesse em lhe afastar do cargo na época, por isso, o pedido de cassação na câmara contra o réu foi votado e arquivado, e a medida protetiva não foi renovada. E afirmou algumas vezes durante seu depoimento que recebeu muitas investidas de Nathalia para que retomassem o relacionamento.
No decorrer da audiência o Juiz Júnior da Luz Miranda, questionou a alegação anterior do réu sobre a arma de fogo Taurus calibre 38 que conforme relatou a polícia, pertencia a ele, na mesma indagação o Juiz mencionou que ele, na época dos fatos, havia elaborado uma narrativa para justificar os motivos pelos quais obteve a arma de fogo. No entanto, no ato da audiência, mudou a sua versão, alegando que a arma pertence à sua mãe. A narrativa do réu foi confrontada pelo Juiz, que chegou a utilizar a palavra “mentiras” em relação ao seu depoimento.
A audiência do Caso Nathália continua a levantar questões e apresenta uma série de versões conflitantes dos eventos. O desfecho do caso depende da análise cuidadosa de todas as evidências e depoimentos apresentados. A Justiça abriu prazo para as alegações finais e continuará investigando para determinar a verdade por trás das acusações e defender os direitos de todas as partes envolvidas.