Jornal Sudoeste Paulista

Gigantes de nossa história. Caxias e a nação nos tempos Imperiais

Sady serviu ao exército por 23 anos e homenageou seu herói Duque de Caxias

É um culto aos antepassados em que vamos reconhecer os sagrados deveres cívicos da nacionalidade. Dentre aqueles que passaram para a história através dos seus feitos heroicos, verdadeiros protagonistas dos mais assinalados serviços prestados à Nação, que encontraremos a figura ímpar de Luiz Alves de Lima e Silva – Duque de Caxias.

Os momentos de incertezas vividos no início do século XIX vêm impor à nação uma busca de valores, capazes de consolidar os elevados interesses e propósitos nacionais. No centro das atenções, está a consolidação da independência recém-proclamada, imperativo necessário à inserção do país no contexto das demais Nações. Caxias, o Soldado do Império, assume importantes missões em defesa da unidade nacional. Portanto, reverenciar a figura de Caxias, dignifica o exemplo deixado pelo maior de todos os soldados brasileiros.

Filho de tradicional família militar, suas qualidades fizeram dele o soldado-modelo no consenso de sua classe. Foi também um dos maiores responsáveis pela integridade de nosso extenso território. Fez-se alferes aos 15 anos e tenente ajudante do Batalhão do imperador, aos 17 anos de idade. No ano de 1822, em meio às efervescências politicas e sociais de então, o Brasil torna-se independente de Portugal e tem, agora, pela frente, novos rumos a seguir. Caxias, o jovem tenente foi investido no primeiro posto do oficialato, tem a glória de receber das mãos de D. Pedro I, a primeira bandeira verde-amarela do Brasil Nação.

Em março de 1823, o tenente Luiz de Lima e Silva segue para a Bahia: O batalhão do imperador tem como missão, sufocar a primeira rebelião contra a independência. É na Bahia que Caxias recebe seu primeiro batismo de fogo, nele revelando excepcionais qualidades de iniciativa, comando, inteligência e bravura. Em 2 de julho, debelada a revolta, o exército libertador tem ordem de regressar ao Rio de Janeiro.

Caxias, pelos seus feitos, recebe o Hábito do Cruzeiro, considerado na época, a mais alta distinção militar. É promovido a capitão aos 20 anos de idade. Para o exército imperial o ano de 1824 é de promissoras iniciativas. Na Corte, o ministro da guerra resolve dar nova organização às forças armadas. O período é de relativa calmaria nas hostes militares. Mas a campanha Cisplatina vem logo após: brasileiros e portugueses residentes no Prata, dividem-se em campos opostos, exigindo do imperador a necessária e pronta intervenção na região em conflito. Caxias, novamente atende ao chamado da Pátria.

No ano seguinte, é nomeado Cavaleiro da Ordem da Rosa. Com a abdicação de D. Pedro, em 7 de abril de 1831, tem início o período Regencial, trazendo as mais profundas transformações e mudanças de valores ate então existentes. Num ambiente de lutas, de incertezas e de insegurança, todas as atenções do governo procuram se concentrar nos militares. O poder central, agora constituído por uma regência conservadora, via em Caxias, dado a sua reserva de bom senso e equilíbrio, o homem necessário. Para ele se voltavam todas as atenções. Em 1835 explode Revolução Farroupilha, que começa inquietar o governo, inclusive com a propagação de ideias separatistas. Caxias é promovido ao posto de Tenente Coronel em setembro de 1837 e segue para o Rio Grande do Sul em 1839, onde colhe preciosos ensinamentos visando a definitiva pacificação da Província.

O governo promove-o general regencial, débil e inseguro ante as constantes dissensões políticas, vem enfrentar duas posições armadas: promovidas pelos liberais que pretendiam derrubar a regência, primeiro o levante de Sorocaba em São Paulo e logo em seguida a Rebelião de Barbacena em Minas Gerais. Caxias, convocado pela corte, recebe carta branca para debelar o movimento paulista. Verificando não terem ainda os rebeldes tomado o capital, decide, antes de mais nada, chegar primeiro, o que exige excepcional rapidez de movimento das tropas. Parte do Rio, via Santos, a 19 de maio, com dois batalhões de caçadores. A 28, toda a São Paulo está guarnecida pelas tropas imperiais.

O movimento rebelde, ao encontrar a cidade ocupada, não resiste, nem capitula. A debandada é geral. Não há mais nada. Novamente, o comandante das armas, no exercício da defesa, da ordem e da lei, retorna à sede do império. Levando consigo os louros de mais uma vitória, conquistada com estratégia de mestre. Por decreto de Sua Majestade Imperial, é nomeado ajudante de campo do Imperador e general-chefe das forças pacificadoras de Minas. Caxias chega ao Rio em 23 de julho. Aí se demora apenas dois dias e parte para Minas. Apesar da serenidade natural de seu temperamento, sabia o general quanto valia a rapidez do deslocamento das tropas que, empreendida em marcha forçada, chega a Ouro Preto em 11 dias. Ao ser ocupada a cidade de Ouro Preto, a revolução está aparentemente sufocada.

As tropas legais sentem-se tomadas de surpresa e Caxias é obrigado aceitar o desafio. Trata-se a decisiva batalha de Santa Luzia. Os revolucionários sentem-se perdidos, vencidos na calada da noite, retraem-se para a Lagoa Santa, onde depõem as armas. O conflito mineiro está totalmente debelado, promovido a Marechal-de-campo, e chamado à Corte, chega ao Rio a 21 de setembro. Terminadas as campanhas do Maranhão, de São Paulo e Minas, Caxias está no auge do seu prestígio militar.

É um nome que se irradia pelo Brasil inteiro. O governo mais do que nunca reconhece em Caxias a figura ímpar de pacificador e soldado, com prestígio suficiente para manter a unidade nacional e saber conduzir com glória e nobreza as armas imperiais. Em 1842, a Revolução Farroupilha, que há mais de 7 anos vinha afrontando o poder central com ideias separatistas, mantém a província Rio-grandense sob a mais exacerbada praça de guerra. Nesse período, nada menos de 12 dirigentes haviam assumido o governo e as decisões na chamada ‘’fronteira rebelde’’ eram impostas pelo canhão, a espada e a lança.

Para os governantes e para a Nação, o panorama não podia ser mais deprimente. Nomeado para as funções de Presidente da Província de Comandante das Armas, Caxias chega a Porto Alegre em 9 de novembro de 1842. Após um longo período de intensa perseguição aos revolucionários, surgem as esperanças de paz. O insigne pacificador lembra aos revoltosos em advertência feita a 17 de março de 1843: “Lembro-vos que a poucos passos de vós está o inimigo de todos nós, o inimigo da raça e da tradição. Não pode tardar que nos meçamos com os soldados de Rosas e de Oribe. Guardemos para então nossas espadas. Vede que esse estrangeiro exulta com essa triste guerra com que nós mesmos nos estamos enfraquecendo e destruindo. Abracemo-nos e unamo-nos para marcharmos, não peito a peito, mas ombro a ombro, em defesa da Pátria que é nossa mãe comum”.

Finalmente, em 1º de março de 1845, Caxias anuncia a pacificação da Província com a seguinte proclamação: “Rio-grandenses! É para mim de inexplicável prazer o ter de anunciar-vos que a guerra civil, que por mais de nove anos devastou esta bela província está terminada. Os irmãos, contra quem combatemos, estão hoje congratulados conosco e já obedecem ao legítimo governo do Império do Brasil’’. Enfim, o país está novamente unido de Norte a Sul. Caxias foi o mais expressivo “instrumento da paz” do tumultuado período regencial do Brasil. Em questões internas, jamais deixou de lado o exercício da diplomacia. Em setembro de 1845, D. Pedro designa-o primeiro senador pelo Rio Grande do Sul. A Província ganha um representante da mais alta expressão nacional. Recebe, nesse ano, o título de Conde, pelos relevantes serviços prestados à Nação.

Retorna à Corte em março de 1846. Após um período de calmarias, o ano de 1851 vem acenar ao Império com novas inquietações. As províncias do Prata- Uruguai e Argentina – movidas pelo mais exacerbado caudilhismo de Oribe e Rosas, passam a exercer expressivas provocações ao Império: São constantes as invasões à Província do Rio Grande do Sul, com saques a propriedades e atentados a famílias brasileiras. Agora, para o império, era a honra nacional que estava em jogo. A pátria mais uma vez apela para Caxias. Novamente, investido no comando das armas imperiais e nomeado pela segunda vez Presidente da Província Rio-Grandense, Caxias chega a Porto Alegre em 30 de julho.

Imagem ilustrativa de Duque de Caxias em Itororó

Caxias dá por cumprida a missão. Partira como marechal e conde, mas regressa como Tenente-general e Marquês. Em julho de 1852 se apresenta à corte por mais uma missão cumprida. É o estadista em quem o Império deposita total confiança. Cessados os conflitos, urge promover a reordenação das instituições internas da Nação. Minimizar a vulnerabilidade do Império devido a falta de presença do estado, dado a imensidão do seu território, era questão da mais alta relevância. Caxias assume então os mais altos cargos da vida nacional, destacando-se como Presidente do Conselho de Estado, Ministro da Guerra e Senador. Somou-se 13 anos de profícuos serviços dedicadas a Pátria.

Vem a seguir a década de 1860 e com ela, o surgimento de mais um conflito externo envolvendo a nação: Francisco Solano Lopes, ditador do Paraguai, pondo de lado a diplomacia e a tradição histórica de seu povo, se lança na mais aventurosa das guerras, invadindo o Brasil pelas províncias de Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Esquece porém o ditador que foi o Brasil seu verdadeiro fiador da independência de sua terra e que o interesse do império brasileiro era por uma política de harmonia com a jovem nação sul-americana. Caxias é solicitado a formular seu plano de guerra, mas não é designado para o teatro de operações. Segundo o tratado da Tríplice-Aliança, a direção geral da guerra é atribuída aos aliados do Prata. Mas após um ano de conflito, o melancólico balanço das operações não satisfaz a opinião pública. O exército aliado, em todo esse tempo, só tendo avançado 14 quilômetros no território inimigo, isso era muito pouco.

Caxias então inicia a reorganização das tropas visando uma dinâmica capaz de enfrentar o inimigo comum. Afinal, em 21 de julho de 1867, o Marquês considera terminada a fase de preparação e está em condições de desencadear a ofensiva. À frente de 26mil combatentes segue para sitiar Humaitá. Na vanguarda marcha o exercito do Sul, sob o comando de Osório, que reúne os mais experientes veteranos adestrados nos embates de tantos conflitos revolucionários. Após destruir a resistência de Humaitá, aonde chegara a 25 de julho de 1868, o Marquês não quer perder tempo em sua marcha impetuosa, as inúmeras vitórias alcançadas pelas tropas de flanco, agora esbarram com nove quilômetros de fortificações paraguaias mantidas pelas instalações de Pequiciri e das baterias da fortaleza de Angustura.

No dia 1º de janeiro de 1869, Caxias determina a ocupação da Capital Assunção, estabelecendo, em expressa recomendação de medidas cautelares quanto à propriedade e a manutenção da ordem pública. A guerra está visualmente terminada, sua missão na campanha da tríplice-aliança está cumprida. O soldado retorna à Pátria, próximo dos 70 anos de idade e arrastado pelos rigores da guerra, mas como um jovem voluntário, o soldado numero 1 do império está de volta. Caxias não foi apenas um colecionador de vitórias, deixou para a posteridade as maiores virtudes pessoais. Ao enfrentar com eficácia e firmeza os desafios da guerra, foi o guerreiro obstinado e o soldado modelo de todos os tempos. Sua espada foi portanto, a verdadeira escora do Segundo Império. Escolhido Patrono do Exército Brasileiro, seu nome está escrito no livro dos “Heróis da Pátria”.

Trechos compilados por Sady Acosta Barcelos dos livros: ‘Caxias’, de Affonso de Carvalho. ‘Reminiscências da Campanha do Paraguai’, de Dionísio Cerqueira e ‘Os voluntários da pátria na guerra do Paraguai’, de Paulo de Queiroz Duarte.

Sady serviu ao exército por 23 anos, e no dia 25 de agosto, Dia do Soldado, organizou o texto, tendo como foco os feitos de um dos maiores vultos da nossa história.