Jornal Sudoeste Paulista

Racismo contra Vinicius Jr. repercute no Brasil e no mundo

Os ataques racistas sofridos no domingo, 21, pelo jogador brasileiro Vinicius Junior na Espanha tiveram repercussão e reações que extrapolaram o universo do futebol e do esporte, e por causa disso, na segunda-feira, 22, o clube dele, Real Madrid, acionou a Justiça espanhola por crime de ódio e discriminação. Até os chefes de governo da Espanha e do Brasil repudiaram publicamente o episódio registrado em Valência.

Na ocasião, o jogador publicou um vídeo nas redes sociais relembrando outros ataques de que foi alvo em estádios espanhóis, onde frisa que os episódios não são casos isolados, mas sim contínuos e que eles aconteceram em várias cidades da Espanha. No domingo, as agressões racistas começaram antes mesmo do jogo. Ainda fora do estádio, torcedores do Valencia cantavam: “Vinicius, você é um macaco”. Os xingamentos continuaram nas arquibancadas, e assim foi durante boa parte do jogo. Em um vídeo é possível escutar torcedores gritando vários insultos racistas.

Durante a partida, Vinicius aos 27 minutos do segundo identificou um dos torcedores que cometiam atos de racismo contra ele. Repetiu o gesto feito pela pessoa e o jogo ficou paralisado pelo juiz por oito minutos. O sistema de som do estádio pediu para os torcedores pararem com os insultos racistas. Vinicius chegou a se emocionar.

O Valencia vencia por 1 a 0 e o time começou a fazer cera para não deixar o Real Madrid jogar, o que causou uma confusão entre jogadores das duas equipes no fim da partida. O goleiro do Valência, Mamardashvili, partiu violentamente para cima do brasileiro. Vinicius Junior foi agarrado pelo pescoço pelo atacante Hugo Duro. Depois se libertar, ele acertou o rosto do adversário. O VAR acionou o árbitro de campo e apresentou a ele somente a imagem da agressão de Vinicius. O atacante acabou sendo o único expulso depois de toda a confusão.

CONSEQUÊNCIAS

De acordo com a imprensa da Espanha, a Federação Espanhola de Futebol vai demitir o juiz que estava na cabine do VAR. Iglesias Villanueva omitiu a imagem do mata-leão no atacante brasileiro. Para Ancelotti, a partida deveria ter sido paralisada, e há algo de errado na Liga Espanhola.

BONECO ENFORCADO

O caso vem desde muito antes, pois desde janeiro, a polícia buscava os responsáveis por pendurar um boneco preto enforcado e vestindo uma camisa do Real Madrid com o número 20, a que Vinicius Jr. veste. O boneco foi pendurado em uma ponte em frente ao campo de treinamento do Real Madrid.

Uma faixa estava grudada no boneco, com a seguinte inscrição: “Madrid odeia o Real”. Uma investigação por injúria racial foi aberta e, segundo a polícia, três dos detidos são integrantes da Frente Atlética, torcida organizada do Atlético de Madrid. Todos os detidos são espanhóis e têm 19, 21, 23 e 24 anos. A prisão dos suspeitos pelo crime ocorreu por volta das 7 horas desta terça. Um dos detidos já tinha passagem na polícia por crime de lesão corporal.

Poucas horas depois, policiais prenderam três torcedores no Mestalla, o estádio do Valencia, identificados pelo clube como os autores dos insultos feitos ao brasileiro durante o jogo do clube valenciano contra o Real Madrid no domingo e, segundo mídias locais, como a “EFE” e a “ABC”, os três envolvidos no incidente de domingo teriam sido soltos após prestar depoimento, pois na Espanha não há uma tipificação específica para racismo. Em comunicado, o Valencia disse que está cooperando com a polícia para “eliminar o racismo no Mestalla” e que está buscando identificar mais torcedores.

NO BRASIL

Em nota, o Brasil pede providências à Fifa e ao governo espanhol, enquanto a ministra das Relações Exteriores substituta, a embaixadora Maria Laura da Rocha, considerou abjetos os atos de racismo contra o jogador de futebol brasileiro Vini Jr, atacante do clube espanhol Real Madrid, ocorridos nesse domingo (21).

A embaixadora destacou a recorrência dos atos de racismo. “Espanta a persistência dos crimes que são cometidos contra o atleta brasileiro, contra todos os afrodescendentes, e sim, contra toda a humanidade a cada cântico e a cada gesto racista lançado contra o jogador”. Sobre a expulsão do jogador brasileiro, a ministra frisou que “na partida, Vinícius levou um cartão vermelho por não ter aguentado tudo aquilo. Lamento muitíssimo. O cartão vermelho deve ser dado ao racismo”, acrescentou.

APOIO DE AUTORIDADES

Desde o ocorrido, o atleta tem recebido apoio de autoridades do Brasil, personalidades do esporte e colegas do clube espanhol. O governo brasileiro divulgou, no início da tarde desta segunda-feira, nota conjunta à imprensa de repúdio aos ataques racistas. Assinam a nota os Ministérios das Relações Exteriores, da Igualdade racial, da Justiça e Segurança Pública, do Esporte e dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Em publicação em rede social, neste domingo, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, cobrou uma postura mais firme de entidades esportivas, governos, da imprensa e de patrocinadores. Silvio Almeida criticou a posição do presidente de La Liga, Javier Tebas. “Em vez de se solidarizar com Vini Júnior, o presidente de La Liga resolve atacar o atleta pelas redes sociais. Para além do destempero do cartola, seria o caso de se perguntar como as empresas que patrocinam a La Liga se posicionam”, afirmou o ministro.

No início da noite desta segunda-feira (22), a iluminação do Cristo Redentor ficou apagada por uma hora em solidariedade a Vinicius Junior. Um símbolo de indignação do Brasil e do Rio de Janeiro, estado onde o jogador nasceu e foi revelado para o futebol mundial. Vini Junior publicou a imagem do Cristo sem iluminação e escreveu: “Preto e imponente. Que simbolize a nossa luta. Muito obrigado por todo o carinho. Estarei sempre pronto pra lutar pelos nossos”.