Jornal Sudoeste Paulista

Timburiense é resgatado de condições análogas à escravidão, “João do Brejo” revê a família depois de 40 anos

Reportagem do Fantástico pôs fim à busca dos dois irmãos e dos três filhos de João, depois de ele passar tantos anos trabalhando escravizado numa fazenda de café em Minas Gerais.

O Fantástico mostrou, há duas semanas, a história do homem que viveu 40 anos como trabalhador escravizado em uma fazenda de café. Sem identidade, ele era chamado de “João do Brejo”, mas a reportagem também pôs fim à busca de uma família: depois de tantos anos, três filhos finalmente reencontraram o pai.

O acaso tem muitos nomes: destino, coincidência, providência. Seja qual for, às vezes o inexplicável acontece. E aconteceu quando Ana Zilia Francisca Ribeiro de Oliveira assistiu à reportagem do Fantástico. Qual a relação dela com João?

“Irmã, com toda a convicção”, diz Zilia, emocionada. “Na hora que olhei a imagem dele, eu já gritei: ‘Ele parece meu irmão que sumiu’. Aí, na hora que eu vi que o repórter deu para ele os documentos, falou o nome dele inteiro, do pai e da minha mãe, não tinha mais dúvida.”

João foi resgatado no fim de janeiro de condições análogas à escravidão na fazenda de café Bela Vista, em Bueno Brandão, em Minas Gerais. Ele chegou ao local em 1984, à procura de um trabalho, e ficou lá vivendo em condições degradantes, sem salário nem registro, durante 39 anos. Diagnosticado com um transtorno neuropsiquiátrico, à época da reportagem ele não tinha nenhum documento e nenhuma memória da vida anterior à fazenda.

Ana Zilia avisou aos sobrinhos que João estava vivo. Os dois irmãos que moram no interior de São Paulo viajaram durante cinco horas de carro para ir ao lar de idosos onde ele estava vivendo e, após um exame de DNA confirmaram: reencontraram o pai.

O reencontro com os filhos trouxe de volta um passado que João havia perdido: ele era lavrador e teve três filhos. Em um relato fragmentado pelo tempo, os filhos contam que, pouco antes do sumiço, o pai começou a ter problemas de saúde mental.

“Desse tempo em diante, que foi o começo do ano de 1983, nós procuramos ele por um bom tempo, mas nunca mais o encontramos”, conta Natal, que tinha 12 anos quando o pai desapareceu.

João não sabe dizer como chegou ao local onde foi mantido como escravo por quase 40 anos. Agora, Natal quer levar o pai para o sítio dele, em Manduri. O quarto já está arrumado, e é bem diferente do casebre onde João vivia.

 

Fonte: Fantástico